Lugares Ambíguos (2017): repetições e conflitos numa cidade fantasiosa

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Por Luis Filipe Rodrigues

Destaque para uma abertura instigante, quando Konoko acorda na praia e parece saber tanto quanto nós sobre os minutos seguintes da trama, isto familiariza-nos rapidamente com ela, esperando que nossas noções sejam tecidas passo a passo, contudo, não é exatamente assim que prossegue.“Lugares Ambíguos” semelha possuir estruturas bastante simples, uma caminhada na cidade litorânea como um sopro de ar fresco, contrapondo-se com situações inusitadas num mundo de fantasia, onde mesmo que volte e meia apareçam algumas criaturas estranhas, a maior estranheza está nas pessoas e como lidam umas com as outras. Se há esse semblante aberto para novas experiências pródigo de um sonho, em contrapartida, abriga vários problemas que não parecem ser sequer considerados.

Dividido em três partes, cada uma segue um personagem diferente que já havia aparecido no capítulo passado. De longe, a mais fácil de acompanhar é a primeira já citada, possivelmente por abrir o percurso que passaríamos por um longo período, no momento que o diretor mais recebe nossa atenção. Uma menina recém desperta que busca um barbeiro que retire um “inseto do mar” de seus cabelos, a segunda chamada abre espaço para um homem que procura por alguém que lhe faça luvas e na terceira, uma menina assistindo Konoko cantar em um teatro, visto que esta antes já havia sido silenciada diversas vezes.

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Um espetáculo desconfortável de se assistir. (Foto: Divulgação)

A passagem destas curtas histórias umas para as outras soa desestimulante, logo todo o ambiente se distancia, e os personagens também. Isto pode funcionar enquanto projetado em suas mensagens, contudo, pouco incita que seus telespectadores cavem dentro para tentar interpretar mais sobre esse desenvolvimento, mesmo que eu não esteja totalmente favorável aos verdadeiros “caça ao tesouro” que filmes reflexivos organizam entre fãs como resultado, este não dá motivos gratificantes para captar o seu sinal. Se não agarrar e fizer esforço para caminhar lado a lado, se tornará um monótono ritual, como quando te é descrito um sonho de outros que não desperta interesse algum, mesmo que algo esteja obviamente escondido lá dentro. O mundo representado não é próximo nem distante o suficiente, não nos mantém “cem porcento” atentos, embora fixe nossos olhos em certas situações na tela.

O ritmo não colabora principalmente por ter sido construído com estes diversos protocolos que parecem fazer parte da “piada”, sejam falas repetidas várias vezes seguidas ou os movimentos mecânicos representados quase totalmente por olhares. A impressão que fica é de ter não testemunhado nada sólido, carecendo de interesse, mesmo que tecnicamente seja belo — com todos os elogios acerca de “fotografia”, “montagem”, “trilha sonora”, entre outros que já ouviu várias vezes —, não caracteriza nenhuma figura marcante. O mais memorável em si é o fato de ter sido categorizado como uma comédia, isto pode fazer o telespectador duvidar que está sóbrio o suficiente mediante o longa ou o tipo de humor usado, tendo em vista que risadas aleatórias que possam surgir não são centradas em algum tipo de admiração, mas se dizem que toda piada tem seu nível de loucura, é possível que esteja mais que certa a inserção cômica na sua ficha técnica.

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Konoko tenta decidir entre seu pai ou os bolinhos. (Foto: Divulgação)

Mesmo preparado é difícil digerir, principalmente se acabar nele procurando por um mero entretenimento, pois não foi feito para relaxar no fim da tarde e se divertir com amigos, pelo menos se espera que eles voltem algum dia, todavia é um item um pouco óbvio nesta altura para reforçar. Não se sinta culpado se olhar para o relógio algumas vezes. A série de críticas acerca de pressões culturais e sociais que quando quebradas possuem uma resposta agressivas, são repetitivas, coagindo suas cenas subsequentes a serem mais um reforço do que acréscimos.

Passou despercebido pela grande maioria, principalmente pelo público brasileiro, e vindo de um diretor relativamente iniciante, cria curiosidade sobre seus próximos lançamentos, angariando alguns fãs mais dispostos para dissecar suas camadas, entretanto, são minoria. Se conseguir penetrar na atmosfera ou for seu primeiro contato com uma obra do gênero, está um passo a frente de todo mundo para suprimir sua atenção nesta aventura estática, que dentre cenas provindas de verdadeiras alucinações como um homem metamorfoseado num inseto ou um jantar em família para lá de desconfortável, pouco fica marcado.///

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Ficha Técnica:
“Lugares Ambíguos”
Título Original: “Uron na tokoro”
Diretor: Akira Ikeda
Ano: 2017
País: Japão
Elenco: Yû Gotô, Yukari Hara, Wani Kansai, Kimura Tomoki, Reika Miwa, Miyamoto Natsu, Miyazawa Ai, Nagao Riyo, Nakamura Kuniaki, Nigo Ayumi, Nishiyama Keisuke, Shōo Ono, Minami Saeki, Hirofumi Shiba, Shûen.

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